ODE À SOJA
Poema de Antonio Miranda
Foto de Zenilton de Jesus Gayoso Miranda
Eu canto
e meu canto se espraia
do Rio Grande do Sul
ao Mato Grosso e ao Maranhão
pelas campinas ondulantes,
como mares verdejantes,
como jardins de longas,
intermináveis
extensões,
por curvas de níveis, horizontes
suaves de cultivo extensivo,
por geometrias de todos os verdes,
verdes-mares de plantios,
verdes-olivas, verdes-claros,
desverdantes de colheitas
mecanizadas.
Verdes-planos superficiais,
de chuvas intermitentes,
irrigações,
águas verdes, alcalinas,
águas de nuvens de chumbo,
nuvens estagnadas
sobre terras cultivadas
como imãs, como zênites
sob raios coruscantes,
satélites rastreantes.
Canto a soja
que serpenteia e se alastra
dos pampas ao cerradão
pelas estradas ao infinito
numa paisagem monocórdia,
monótona, repetitiva,
mas vicejante
em seus planos enquadrados,
na pulsação
de seus grãos engravidados,
de seu manejo científico,
de sua transgenia
polêmica.
Canto esses povos errantes
devastadores de matas
e savanas bravias:
anti-heróis,
empresários,
tecnólogos
ligados às bolsas de futuro,
acumulando divisas,
atravessando fronteiras
na mais assumida
mundialização.
A soja
respira o ar do planeta,
chuvas ácidas globalizadas,
viaja de trem, de navio
e fala todas as línguas
sem sotaque.
Ela coloniza,
exporta valores agregados
e importa bens de consumo,
freta aviões, alavanca sonhos
inverossíveis.
Ouro-soja
cercado de regalias
expulsando o homem da terra,
por dunas vegetais
sitiadas
na geografia
do Meta-Brasil.
Extraído de TERRA BRASILIS, inédito.
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